Em recente passagem por São Paulo, Primo Franco, da Nino Franco Spumanti - famosa pelos Proseccos, como o Rustico - fez questão de que seu vinho não fosse servido em flutes, mas sim em taças para vinhos tranquilos. A explicação do vinhateiro foi simples: a flute não permite que toda riqueza aromática de um espumante chegue ao nariz do degustador. Sua teoria vem respaldada por ninguém menos que a famosa casa Riedel, com mais de 250 anos de tradição no trabalho com vidros e cristais. No começo dos anos 1960, o austríaco Claus Riedel, nona geração da família, revolucionou o mercado de taças e copos para bebidas ao iniciar uma cruzada para mostrar aos apreciadores de vinhos que existe uma taça ou copo adequado para cada tipo de bebida, capaz de realçar as qualidades do que está sendo bebido.
Provada sua tese, a Riedel não parou de lançar produtos específicos para diferentes bebidas. Seu filho, Georg Riedel, décima geração da família, foi adiante com a diversificação de modelos, chegando ao requinte de projetar e produzir taças distintas para vinhos elaborados com diferentes variedades de uvas, bem como modelos de copos específicos para cada destilado. Uma das primeiras vítimas a sair de cena foi a champagne coupe, a clássica e sofisticada taça com a qual era possível montar as famosas cascatas de champagne, empilhando uma taça sobre a outra, formando uma pirâmide. Após a formação, o champagne era despejado na taça mais alta, escorrendo para as demais. Glamuroso! O cinema hollywoodiano não cansou de explorar esse gesto de sofisticação e abundância.
O golpe de misericórdia nesse tipo então clássico de taça foi dado com a apresentação da flute, um modelo de taça estreita e alta, que auxilia na conservação do perlage (as finas bolhas que se desprendem do fundo da taça, formando um cordão de pérolas até a superfície). A flute também auxilia na concentração dos delicados aromas dos espumantes, sendo a taça mais utilizada no seu serviço atualmente. O modelo anterior, a bem da verdade, não desapareceu totalmente. A medida em que os champagnes foram ficando cada vez mais brut, ou secos, as taças de bordas mais largas foram deixando de ser usadas, tendo sua aplicação mais indicada para os espumantes com maior grau de açúcar residual, segundo esclarece Edmundo Furtado em seu recém lançado Copos de bar & mesa (Senac SP, 2009).
Segundo matéria publicada pela Imbibe Magazine (novembro 2009), tudo ia bem com as flutes, até que, no final dos anos 90, Maximilian Riedel, décima primeira geração da família, notou que muitos sommeliers utilizavam taças mais amplas para degustar os champagnes, mesmo os brut. De acordo com eles, as taças mais abertas auxiliariam a dispersar os gases das pequenas bolhas, permitindo uma aproximação mais franca dos aromas que se desprendem dos espumantes. Desde então, a Riedel entrou na nova cruzada que criou para os espumantes: taças com bojo e boca mais amplas que as agora tradicionais flute. As taças de espumante criadas pela Riedel são próximas das de vinho branco, ligeiramente mais baixas e com bordas pouca coisa mais fechadas. Nem as coupe, nem as flute, e de fato, na degustação conduzida por Primo Franco, seus espumantes ganharam ainda mais vida quando degustados nesse tipo de taça. Os apreciadores de espumantes agradecem o esforço, especialmente os de nariz mais avantajado.
Especial para Terra - por Carlos Alberto Barbosa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário