sábado, 7 de abril de 2012

Em busca da elegância!!!

O que seria essa tão decantada "elegância dos vinhos" que está na moda e na boca de quase todos os enólogos do mundo?

Por Alexandre Lalas


  O Aurélio ensina que elegância é um substantivo feminino e significa "graça, distinção nas formas, nas maneiras, nos trajes: elegância de porte, de vestes; apresentar-se com elegância; arte de escolher as palavras: falar, escrever com elegância; elegância de estilo". A estilista Duda Braga, que durante anos foi o braço direito da consagrada Isabela Capeto e recentemente lançou grife própria, a Brir, adiciona outro substantivo à definição da palavra. "Para mim, a elegância é uma questão de simplicidade. Tem a ver com discrição e até com educação. A pessoa não resolve ficar elegante. Ela é ou não", ensina Duda.
No mundo do vinho, a palavra elegância está mais do que na moda. Experimente conversar com um enólogo, especialmente de países do Novo Mundo, sobre os vinhos que o sujeito produz e a resposta será repetida quase como um mantra: "minha meta é fazer vinhos elegantes", vai jurar o enólogo, seja ele australiano, chileno, sul-africano, ou o que for.
Após anos de domínio de vinhos superextraídos, concentrados, fortes, potentes, a coisa virou. No mundo do vinho, a busca pela elegância é o cálice sagrado almejado por 10 entre 10 enólogos mundo afora.
O que é elegância?
Mas, afinal de contas, o que diabos é essa tal elegância? Como defini-la, o que fazer para encontrá-la? Se há uma região onde a maior parte dos vinhos carrega no DNA a tão decantada elegância é a Borgonha, na França. Para Anne Moreau, da Domaine Louis Moreau, em Chablis, a questão não é fácil, e é até preciso usar a imaginação para definir o conceito do "ser elegante" nos vinhos. "Acho que na Borgonha fazemos vinhos mais finos e discretos do que, por exemplo, em Bordeaux, onde você pode encontrar mais fruta e até vinhos mais expressivos, mas que, no fundo, talvez sejam vinhos que queiram apenas 'se exibir'. Talvez dessa fineza e discrição nasça a elegância", sugere Anne. "Por outro lado, percebo que em Chablis outros dois fatores pesam muito na hora de determinar se o vinho será ou não elegante: a mineralidade e o frescor, combinados com a fruta e a expressão do terroir", acrescenta.
Em relação a essa suposta tendência do mercado, Anne crê que há duas correntes. Ela ainda enxerga uma diferença entre Novo e Velho Mundo no estilo de fazer vinhos, e acha que muitas diferenças vêm justamente do que o consumidor espera. "Acho que há duas vertentes na produção de vinho.
O consumidor mais novo, que está começando a aprender sobre a bebida, até prefere vinhos mais diretos, de estilo mais Novo Mundo. Enquanto aquele cara que já provou mais coisas e pode até ser chamado de 'connoisseur', esse sim, busca vinhos mais discretos, sutis, enfim, elegantes", conclui.

Foto: Luna Garcia

Existe elegância no Novo Mundo?

Para o australiano John Duval, que durante quase 30 anos foi o responsável pela produção do Penfolds Grange, um dos grandes ícones da Austrália, essa diferença entre estilos de Novo e Velho Mundo é uma "discussão estéril". "Nas décadas de 1970 e 80 até havia certa diferença entre o que se fazia na Europa e o que apresentavam países como Austrália e Estados Unidos. Hoje em dia não há mais isso. Basta dizer que é normal encontrar vinhas de mais de 100 anos na Austrália, coisa que não ocorre na França ou na Itália com a mesma frequência. Há vinhos feitos no Novo Mundo que são elegantes e austeros e outros feitos no Velho Mundo que são robustos, musculosos e superconcentrados. É tudo uma questão de solo, clima e desejo do enólogo", afirma.
No comando da John Duval Wines, o australiano dá a receita própria de um vinho elegante. "Eu gosto de fazer vinhos com menos extração. Trabalhando com baixo rendimento e em vinhas velhas (algumas até centenárias), consigo riqueza aromática e gustativa, além de taninos maduros, sem precisar de grandes níveis de açúcar nas uvas, e, consequentemente, faço vinhos menos alcoólicos", ensina. "Vinhos com menos extração e graduação alcoólica mais moderada, em minha opinião, refletem melhor o terroir de Barossa. E acho mesmo que podemos considerar essa uma tendência por aqui", completa Duval.
  FONTE - Revista Adega

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